terça-feira, 13 de julho de 2010

OS GOSTOS DO MEU DIA


UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA-
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA – ENSINO FUNDAMENTAL/SÉRIES INICIAIS

Cursista- Macicleide da silva Pires
Orientadora- Professora Paula Moreira
Atividade- Diário de Ciclo: do produto ao processo.


Os gostos do meu dia



Hoje o dia amanheceu agitado, o vento soprava forte e muita terra assentava-se sobre o assoalho da porta. Ao dizer a primeira palavra do dia minha voz quase não saia, eu estava bastante rouca, a garganta muito inflamada e tossia descontroladamente. O xarope com gosto de ferro e enxofre me aliviou um pouco a tosse e deu-me condições de chegar a escola sem assustar as pessoas que se deparavam comigo no caminho.
Durante quatro horas senti a terrível sensação de assumir uma turma com 26 alunos apenas com o domínio das palmas e batuques na mesa para pedir a minha atenção.
Numa discussão entre dois colegas suas palavras soavam alto, eles deliberavam palavras salgadas, amargas, fedidas, quentes e duras a ponto de se pegarem fisicamente. Tentei soltar algumas palavras doces para acalmá-los, no entanto, a tentativa foi em vão, foi necessário chegar perto deles e pedir gesticulando que fossem até a sala da direção com a expectativa de que degustassem algo ouvido pela diretora da escola.
Fiquei muito nervosa, angustiada e senti necessidade de gritar, mas nada adiantaria as inúmeras tentativas. Por alguns instantes senti um gosto de sangue na língua, o amargor do limão na garganta e a sensação de que o xarope ingerido ao sair de casa formava-se um bolo em meu estômago querendo escorrer pela minha garganta e sair pela boca a procura de socorro.
No segundo momento da aula os alunos já demonstravam mais tranquilidade, assim, pude dar continuidade à atividade de Geografia, na confecção dos planetas que fazem parte do sistema solar. As cores do arco íris, da bandeira brasileira e do planeta terra abrilhantaram a aula envolvendo os alunos no brilho das cores que corriam levemente em suas veias, mexendo, experimentando, se lambuzando como se as cores penetrassem em seus ventres e acalmassem o seu interior.
Ao final do trabalho eu não tive palavras para elogiá-los, mas, uma salva de palmas demonstrou meu desejo e satisfação pelo trabalho realizado.
Voltei para casa envolvida de muita fraqueza e cansaço, mas, os gostos do vick, do alho e da hortelã trouxeram-me tranquilidade e fizeram-me dormir por longas horas para que no dia seguinte eu não viesse a experimentar novamente os gostos amargos provados nesta manhã de terça-feira.

Abertura do Projeto de Leitura na Escola.













No dia 15-05 assisti ao filme Tapete Vermelho com a professora Élica Paiva, e pude prestigiar a belíssima história do personagem “Quinzinho”, interpretado por Mateus Nachtergaele, o Jeca. Quinzinho é um caipira do mato, sem nenhuma escolaridade, que vai para a cidade e enfrenta diversas turbulências com um único objetivo: dar um presente ao filho no seu aniversário, algo que ele teve na infância e que traz como lembrança do passado, que é assistir ao filme de Mazaroppi, uma pessoa de grande importância para o cinema brasileiro.
O caipira na sociedade atual ainda é visto com rejeição, os traços físicos e o modo de falar levam-no a certo isolamento da sociedade, andar com um burro é inadequado na cidade grande e o caipira ainda é visto como gente sem escolaridade.
Pensando em resgatar a cultura sertaneja e o valor do caipira na sociedade atual, bem como a sua relação com a educação, nós, professores da Escola Sinésia Caldeira Bela, sob a direção da professora Simone Nunes, elaboramos no dia 20 de maio de 2010 uma dramatização para abrilhantar a abertura do projeto de Leitura na escola.
Iniciamos a dramatização com a música: A tristeza do Jeca, na composição de Angelino de Oliveira, 1917 e cantada na voz de Zezé de Camargo e Luciano. As professoras Edivania, Marizete, Delian e eu estávamos caracterizadas de caipira, com exceção de Cristina Aleluia, que viveu na capital e trazia para os parentes diferentes tipos de livros, incentivando-os a lerem cada vez mais, principalmente o sobrinho Toinho, que não gostava de ler, só pensava em jogar bola, conforme podemos ver nas fotos acima.
O ato de ler necessita de estímulos, e assim, acredito que um projeto de leitura traz grandes benefícios para o desempenho dos alunos, não somente na leitura do texto escrito, como também na leitura de mundo.

Na sequência das fotos temos as professoras: Foto 1-Macicleide, 2-Edivânia e Marizete, 3-Cristina Aleluia e 4-Maria Delian.

O livro "A Casa dos Espíritos"

Ler é resposta a um objetivo, a uma necessidade pessoal. A leitura é fundamental para a estruturação do pensamento autônomo de alunos e professores. Através da leitura prazerosa, senti os gostos, os risos, as emoções e também as dores ao viajar na história do livro “A casa dos Espíritos”.
Muitas cenas vividas pelos personagens me fizeram rir por achar engraçadas as atuações dos autores e por sentir-me presente no local; outras me deixaram chocadas diante de tantas tragédias e horrores que me levaram a voltar para a realidade e relacionar os fatos relatados pela autora ao nos depararmos hoje com o convívio social e as notícias de Brasil e mundo: a ambição do personagem Esteban Trueba, um homem pobre que enfrenta as misérias das minas à procura de diamante, para ficar rico e se casar com Clara Del Vale, e que mais tarde sofre com a riqueza ao se ver dono do poder, do dinheiro e de todos, causando sofrimento a muitos que o cercam.
A brutalidade inútil do estupro está presente nos atos de Esteban, daí gera um filho bastardo chamado Esteban Garcia, que mais tarde também tem um filho e recebe o mesmo nome do pai, este adquire toda a ira e raiva do avô, trazendo inúmeras tragédias para as duas famílias.
O terremoto ocorrido em Las Três Marias, cidade reconstruída por Esteban, trouxe-me as imagens das tragédias ocorridas no Haiti, em janeiro de 2010, onde houve aproximadamente 120 mil mortos e entre estes, muitos brasileiros, inclusive a médica Zilda Arns Neumann, coordenadora internacional da Pastoral da Criança, médica pediatra e sanitarista, a qual tinha 73 anos.
Em Las Três Marias, o terremoto atirou ao chão tudo o que estava em pé, e, ao nascer do sol, contavam-se os mortos e desenterravam-se os sepultados que ainda gemiam embaixo dos escombros.
A estupefata ganância de Esteban pelo dinheiro, pela fama, pelo poder e pela luta a favor da desigualdade social lhe tornou um homem mau e, com o passar do tempo, se apoderava do sofrimento cada vez mais.
A terrível história deste personagem e de toda a sua família que Isabel Allende escreve no ano de 1984 não está distante de tantas realidades que presenciamos nos tempos modernos e que, dia após dia, nos amedronta diante de tanta violência que nos faz ter receio de conversar ou confiar no próprio ser humano, o qual muitas vezes desconhecemos, ou nem mesmo sabemos quem realmente é de verdade.
VALE A PENA LER O LIVRO.