segunda-feira, 12 de abril de 2010

ARTE E PRÁTICAS CORPORAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA-
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA – ENSINO FUNDAMENTAL/SÉRIES INICIAIS
Ciclo Três

MARIA GRACINETE HENRIQUE, MACICLEIDE S. PIRES, GILVANEIDE C. ARAÚJO, MERE MÁRCIA A. ALMEIDA, MARIA JANETE S. OLIVEIRA E JOSIELMA S. PIRES.

Arte e práticas corporais na Educação Infantil


“O teatro quando adentra a instituição educacional não precisa, e não deve ser um teatro “escolarizado”, “didatizado”, para que tenha importância educacional; ao contrário, deve ser preservado em sua potencialidade, pois seu principal vigor pedagógico está no caráter artístico que lhe é inerente”.
DESGRANGES 2006



Com base na fala de Desgranges, percebemos a importância de se trabalhar com o teatro preservando sua potencialidade.
O contexto educacional brasileiro é perpassado por questões de diferentes naturezas, entre as quais encontramos os dilemas do desenho curricular a ser proposto na contemporaneidade em um país que, com seus impasses na escolha dos encaminhamentos metodológicos mais adequados às diferentes regiões do país.
Enfim, a atual legislação educacional brasileira reconhece a importância da arte na formação e desenvolvimento de crianças e jovens, incluindo-a como componente curricular obrigatório da educação básica.
No ensino fundamental, a Arte passa a vigorar a partir da implantação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), Brasil, MEC, 1998, enquanto área de conhecimento no currículo da escola brasileira, através de quatro linguagens artísticas: Artes visuais, Dança, Música e Teatro.
Os PCNs foram elaborados procurando de um lado, respeitar as diversidades regionais, culturais e políticas existentes no país, considerando de outro a necessidade de construir referências nacionais comuns do processo educativo em todas as regiões brasileiras.
A importância de se trabalhar a obra de arte na escola se dá, porque seus conteúdos buscam acolher a diversidade do repertório cultural que o aluno traz para a escola e trabalhar os produtos da comunidade em que a escola está inserida. A apreciação e o estudo da Arte devem contribuir tanto para o processo de criação dos alunos como para a experiência estética e conhecimento da arte como cultura.
Dessa forma os conteúdos de Arte são articulados com vistas ao processo de ensino e aprendizagem na escola e foram explicitados por intermédio de ações como: produzir, apreciar e contextualizar.
As atividades de teatro, expressão ou jogos dramáticos têm lugar importante numa proposta didática. Sendo o centro dessas atividades o “faz-de-conta”, ou seja, o representar um personagem, trata-se de uma prática muito útil para a vivência da idéia de símbolo. O que é escrito é um substituto de objetos, de ações, de sentimentos, de fatos de qualidades, de circunstâncias.
As atividades regulares de teatro mostram-se positivas na aprendizagem, como também provocam efeitos individualizantes sobre as crianças, quando alguém dramatiza ser outra pessoa, busca compreender essa outra pessoa, e, ao mesmo tempo, compreende melhor a si mesma.
Todo indivíduo se serve de formas diversas para expressar suas experiências pessoais. Como essas experiências acompanham o crescimento do indivíduo, a sua auto-identificação envolve as mudanças sociais, intelectuais, emocionais e psicológicas que se operam no íntimo do ser. Para assegurar o equilíbrio psíquico, tanto da criança quanto do adulto, é importante o ato de se exprimir, seja qual for o conteúdo ou a forma dessa expressão.
A arte que nasce da auto-expressão representa importante papel no desenvolvimento do eu, principalmente no caso de crianças menores. Esse papel é tão importante que merece do professor especial atenção.
A criança demonstra sua criatividade através da expressão verbal e corporal, do desenho, da música, de brincadeiras. Ela é criativa na medida em que consegue realizar suas potencialidades como ser humano, isto é, quando lhe é permitido fazer aquilo que sente e que quer expressar e não o que o adulto acha bonito, e como diz Constance Kammi:

“A expressão artística pode contribuir grandemente para o desenvolvimento de sua autonomia – chegar a ser capaz de pensar por si mesmo, com sentido crítico e levando em conta muitos pontos de vista, tanto no âmbito moral como no intelectual!” (KAMII, 1992, p. 69).

As atividades em artes favorecem também o desenvolvimento afetivo, especialmente por facilitarem a livre expressão e permitirem a descarga de tensões, assegurando o equilíbrio emocional.
A criança exercita independência e iniciativa quando lhe é dada oportunidade de escolher seu trabalho. Ela conquista a expressão de sentimentos e emoções quando objetiva seu modo de sentir e descobre a si mesma através de suas obras.
A criança se exprime de várias maneiras, mas é através das artes plásticas que pode criar e recriar sua própria obra.
Dessa forma, enquanto o grupo acredita e defende a arte como disciplina curricular obrigatória que possibilita o criar, recriar expressar, imaginar etc, infelizmente ainda existem muitas escolas fazendo da arte um passa tempo, utilizando atividades mimeografadas com formas estereotipadas para as crianças colorirem, impossibilitando o fazer artístico acontecer de forma criativa e produtiva.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação traz também informações muito importantes sobre o trabalho com a mediação lúdica em sala de aula, ele diz que:
“Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais”. (Referencial Curricular Nacional para a Educação infantil, 1998, p. 22).


Hoje, já não é mais comum vermos crianças brincando livremente em locais adequados à sua idade. A maioria, quando não está absorvida pelos jogos eletrônicos, está presa em casa.
Antigamente, as brincadeiras de roda, baleado, casinha, amarelinha, giribita, anelzinho, chicotinho queimado, pião, pipa, bila e tantas outras, eram muito presentes na vida das crianças; havia mais liberdade e segurança para brincar nas ruas e quintais. Hoje, muito disso se perdeu e a sala de aula se tornou um lugar apropriado para resgatar estes momentos lúdicos e prazerosos.
A brincadeira é uma linguagem natural da criança, e é importante que ela esteja presente na escola desde a educação infantil, para que o aluno possa se colocar e se expressar através de atividades lúdicas considerando-se como lúdicas as brincadeiras, os jogos, a música, a arte, a expressão corporal, ou seja, atividades que mantenham a espontaneidade das crianças.
Entendendo ainda que, o primeiro passo para se trazer o lúdico, a brincadeira para dentro da escola, é o resgate da infância dos próprios educadores, a memória de como brincavam, para se lembrarem de uma figura especial. É um momento de humanizar as relações, de resgatar os sentimentos e lembrar como eram e o que sentiam quando vivia o momento que as crianças, seus alunos, estão vivendo agora. Todo mundo foi criança e teve essa vivência.
Pelo seu caráter coletivo, os jogos e as brincadeiras permitem que o grupo se estruture, que as crianças estabeleçam relações ricas de troca, aprendam a esperar sua vez, acostume-se a lidar com regras, conscientizando-se que podem ganhar ou perder.
É importante que os professores compreendam como as crianças aprendem através das brincadeiras; observando e analisando estas situações, facilitará o planejamento das atividades e ele conseguirá resultados produtivos mediante os objetivos desejados. Essas atividades devem ser cuidadosamente acompanhadas pelo professor. É importante destacar também que, nem todas as brincadeiras devem ser sugeridas pelo adulto; é preciso proporcionar espaços e tempos para que os alunos se envolvam em brincadeiras escolhidas por eles.
As brincadeiras que são oferecidas às crianças devem estar de acordo com a zona de desenvolvimento em que elas se encontram e os professores precisam estimular seus alunos para que o desenvolvimento do conhecimento aconteça.
Atualmente percebemos que o problema da utilização dos jogos na escola, está no fato deste ser utilizado apenas como instrumento pedagógico. A ludicidade e a aprendizagem não podem ser consideradas como ações com objetivos distintos. O jogo e a brincadeira são por si só uma situação de aprendizagem. O brincar é um direito fundamental de toda criança, cada uma deve estar em condição de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem.
A escola deve oferecer oportunidades para a construção do conhecimento através da descoberta e da invenção, elementos estes indispensáveis para a participação ativa da criança no seu meio.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

DESGRANGES, Flávio. Pedagogia do Teatro: provocação e dialogismo. São Paulo: Hucitec: Edições Mandacaru, 2006.

KAMII, Constance; DEVRIES, Rheta. Piaget para a educação pré-escolar. Porto Alegre, Artes Médicas, 1992.

RIBEIRO, Lourdes Estáquio Pinto. Para Casa ou Para sala? São Paulo: ed. Didática Paulista, 1999.

SANTOS, Deolinda Alice dos. Brinquedos e brincadeiras. Revista Pedagógica. Julho/Agosto 1995.